Ações Climáticas Rápidas: Achim Steiner e Christiana Figueres
BONN/ NAIROBI – Em dezembro passado, em Paris, os líderes mundiais se reuniram e concordaram em um conjunto de metas e caminhos para a descarbonização da economia global e aumentar a nossa capacidade de adaptação às mudanças climáticas. Essa conquista foi um marco, mas era apenas o começo. Cada país – com o apoio das cidades, o setor privado e cidadãos – devem agora que agir rapidamente para cumprir suas promessas e assim controlar as mudanças climáticas.
A necessidade de uma ação urgente e combinada não pode ser suficientemente enfatizada. Qualquer demora terá consequências na continuidade do acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera. Isto não só irá causar grande sofrimento, especialmente para as pessoas mais vulneráveis do mundo, mas também vai reverberar por décadas, tornando o objetivo fundamental de manter o aumento da temperatura global abaixo de 2º Celsius (em relação aos níveis pré-industriais) cada vez mais caro e difícil.
O rápido progresso que é necessário exigirá grandes reduções nas emissões de dióxido de carbono, que somente sera alcançada através de um maior investimento no desenvolvimento e expansão de energia mais limpa e eficiente. Ao mesmo tempo, os esforços para conservar e expandir os sumidouros de carbono – isto é, as florestas, pântanos, pradarias, manguezais e oceanos que absorvem a maior parte do CO2 emitido – são cruciais.
Mas, mesmo nos cenários mais otimistas, vai levar tempo para termos uma mudança global para migrar dos combustíveis fósseis para as energias renováveis e para restaurar a infra-estrutura ecológica do mundo. É por isso que é importante buscar medidas para reduzir os poluentes climáticos de vida curta (ou em ingles, short-lived climate pollutants), que também causam o aquecimento global. Esses poluentes incluem o carbono negro ou fuligem (o principal componente do material particulado, que também é uma importante e crescente preocupação para a saúde); hidrofluorocarbonetos (HFC), usado mais comumente em refrigeraçã; e metano e ozono troposférico (ou ao nível do solo).
Tonelada por tonelada, esses “super poluentes” causam muito mais aquecimento do que o CO2. De fato o impacto do aquecimento da fuligem é cerca de 900 vezes maior do que o da carbono, e o impacto do metano é cerca de 28 vezes maior. Muitos dos HFCs têm um potencial de aquecimento cerca de 2.000 vezes mais poderoso do que o CO2.
Os problemas causados pelo poluentes climáticos de vida curta vão além das mudanças climáticas. O carbon negro e o ozono troposférico são poluentes atmosféricos comuns, que juntos matam cerca de sete milhões de pessoas por ano e destroem centenas de milhões de toneladas de alimentos.
O Programa Nações Unidas, Coalisão pelo Clima e pelo Ar Limpo (do inglês Climate & Clean Air Coalition) estima que ações rápidas para reduzir os poluentes climáticos de vida curta, especialmente metano e carbono negro, tem o potencial de retardar o aquecimento esperado até 2050 em até 0,5º Celsius. Além disso, poderia economizar mais de dois milhões de vidas por ano e evitar a perda de mais de 30 milhões de toneladas em safras por ano.
E há motivos para esperarmos que nós podemos sim colher esses benefícios. Sob o acordo de Paris, os países individuais se comprometeram a reduzir emissões de acordo com as suas próprias contribuições nacionalmente determinadas. Mais de uma dúzia de países incluíram SLCPs nos seus planos de ação climática nacional. Além disso, a Climate & Clean Air Coalition está trabalhando com 50 países membros, bem como com o Banco Mundial e a Organização Mundial da Saúde, para reduzir os super poluentes.
Mas, para ser bem sucedido, os esforços devem ir além do acordo de Paris. Felizmente, estamos fazendo progresso aqui também.
Medidas para diminuir a produção e o consumo de HFC já estão em curso por meio do Protocolo de Montreal sobre a protecção da camada de ozônio. Governos abriram as negociações formais em novembro passado, e pretendem chegar a um acordo até o final desse ano. Essa idéia de usar o Protocolo de Montreal se baseia na impressionante eliminação progressiva de outros produtos químicos mais antigos e semlhantes ao HFC, como clorofluorocarbonos (CFC), que evitou o equivalente a 135 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera, enquanto recuperava a camada de ozônio.
Naturalmente, a redução da SLCPs não deve vir às custas dos esforços para reduzir as emissões de CO2. Pelo contrário, o mundo pode e deve reduzir ambos simultaneamente. E, de fato, os esforços para reduzir as emissões de CO2 também estão ocorrendo fora do acordo Paris. A Organização Internacional de Aviação Civil está trabalhando para reduzir as emissões do transporte aéreo, tendo chegado a um acordo preliminar sobre o assunto há algumas semanas atrás. A Organização Marítima Internacional está tentando objetivos semelhantes para o transporte maritime de cargas.
O aquecimento a partir de qualquer poluente clima é perigoso e põe em movimento uma série de efeitos potencialmente irreversíveis, incluindo o aumento contínuo do nível do mar, a destruição das florestas, o derretimento do gelo do mar Ártico, das geleiras na Groenlândia e no planalto tibetano, e do permafrost. Para piorar as coisas, estes efeitos podem se reforçar mutuamente, colocando o mundo em um ciclo vicioso do qual se torna cada vez mais difícil escapar.
Mas se agirmos rápido, pegando um novo impulso com os HFCs no âmbito de acordos irmãos como o Protocolo de Montreal e uma gama crescente de coalizões de cooperação, podemos evitar desastres e garantir o desenvolvimento econômico a longo prazo, apoiando inclusive progresso para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Simplificando, a taxa de ação em todas as emissões relacionadas com o clima vai determinar o nosso sucesso na erradicação da pobreza e moldar o mundo que os nossos descendentes vão herdar. Com os governos se preparando para assinar o acordo de Paris no dia 22 de Abril, nunca houve uma melhor oportunidade para avançar na direção de um futuro mais brilhante, mais limpo e mais próspero.
Achim Steiner é diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Christiana Figueres é Secretária Executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Copyright: Project Syndicate, 2016. www.project-syndicate.org *Esse texto é uma tradução livre, favor encontrar o original em: http://newsroom.unfccc.int/unfccc-newsroom/achim-steiner-and-christiana-figueres-fast-tracking-climate-action/